A excelência do ministério pastoral
O ministério pastoral é uma grande dádiva de Deus. Lembro-me de ter ouvido um pastor já no final do seu ministério dizer certa vez: “De todas as vocações que Deus pode dar a um homem nesta terra, a maior delas é a vocação para o ministério”. Eu compartilho dessas palavras. Não desmereço as demais vocações, mas preciso admitir que a vocação ministerial é uma dádiva por demais sublime. Permitam-me a ousadia de dizer que é a mais sublime das vocações. Assim expressou o apóstolo Paulo ao seu amigo e filho na fé Timóteo: “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1 Timóteo 3. 1).
A sublimidade da vocação ministerial traz consigo uma grande exigência. Não é uma obra para os que simplesmente querem fazê-la, mas para os que Deus escolheu e vocacionou. João Calvino, comentando o texto de Paulo em 1 Timóteo 3. 1 diz: “Portanto ele afirma que essa não é uma obra comum que qualquer pessoa pode empreender. Ao usar a palavra [kelon] para descrevê-la, não tenho dúvida de que ele está fazendo alusão ao antigo provérbio citado por Platão [duscola ta kala], significando que as coisas que são excelentes são igualmente árduas e difíceis. E assim ele conecta dificuldade com excelência, ou melhor, argumenta que o ofício de bispo não pertence a todo e qualquer homem, visto ser o mesmo algo valiosíssimo”.
A excelência do ministério não está apenas nas honras que ele confere, mas também nas dificuldades e exigências que ele propõe. Ser um ministro do evangelho significa ter mais que um título eclesiástico; é ter um chamado cujo cumprimento exigirá esforço, abnegação e coragem. A excelência também não está na pessoa chamada, mas em quem fez o chamado. Deus é o Senhor da vocação, seu agente e seu mantenedor. Ninguém pode considerar-se digno da vocação ministerial, pois ela não é um prêmio, nem um mérito, e sim, um dom. E os dons do Espírito são concedidos de acordo vontade soberana de Deus, não de acordo com os merecimentos humanos.
A excelência do ministério não está nas vozes que elogiam, nem nas vestimentas suntuosas. Não está nas côngruas nem nos diplomas. A excelência está na “paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias” (2 Coríntios 6. 4). A excelência do ministério não pode ser encontrada simplesmente no reconhecimento dos homens, mas, sobretudo, na aprovação divina: “Procura apresentar-te a Deus aprovado”, disse o apóstolo (2 Timóteo 2. 15). Nem tudo aquilo que os homens aplaudem Deus aprova.
A excelência do ministério pastoral não está no que se ganha, mas no que se oferta por amor ao reino e ao Rei. A excelência não está na quantidade de gente que segue a opinião do ministro, mas na quantidade de vidas que se tornam seguidoras de Cristo. A excelência está em poder anunciar as boas novas de salvação, em profetizar a libertação aos cativos e cuidar dos filhos de Deus.
Calvino ainda diz em seu comentário à primeira epístola a Timóteo: “Os que aspiram [o ofício de bispo] devem ponderar prudentemente se são capazes de suportar uma responsabilidade tão pesada. A ignorância é sempre precipitada, e um discreto discernimento das coisas faz um homem modesto. A razão por que homens destituídos de habilidade e de sabedoria às vezes aspiram temerariamente assumir as rédeas do governo é que se precipitam para ele com os olhos vendados. A fim de conter tal ousadia na busca do ofício episcopal, Paulo primeiramente afirma que ele não é uma profissão rendosa, e, sim, uma obra; e, em seguida, que ele não é qualquer gênero de obra, e, sim, que é uma obra excelente, e portanto espinhosa e saturada de dificuldades, como na verdade o é”.
A excelência do ministério pastoral está em poder representar entre os escolhidos de Deus o seu próprio Filho, o Pastor por Excelência, a quem todo pastor humano deve honra e submissão, e a quem prestará contas de seu serviço. E, certamente, como diz Calvino, “representar o Filho de Deus não é algo de pouca monta, diante da gigantesca tarefa de erigir e expandir o reino de Deus, de cuidar da salvação das almas, às quais o Senhor mesmo condescendeu comprar com seu próprio sangue, e de governar a Igreja que é a herança de Deus”.
Pr. HERLANIO FREITAS